Acabei de passar por um dos momentos mais marcantes na minha vida, encerrei um ciclo de planejamento dentro da startup em que eu trabalho. Muitas vezes um processo de planejamento pode ser conduzido com métodos que foram inventados por outras pessoas e foram aplicados em empresas diferentes da que você atua hoje e muito provavelmente por pessoas que não pensam como você. Por exemplo na indústria, o que me ensinaram sobre planejamento pode ser resumido em algumas abas de excel e nada mais que isso. Um planner precisa apenas de raciocínio lógico, apenas.
Mas e se eu não trabalhar numa indústria? E se eu trabalho numa empresa que criou um produto do zero? E se a minha equipe não entender o método? A minha equipe vai cumprir esse planejamento? – Eu também não sabia responder isso.
Hoje acredito que eu tenha percebido (e dado o primeiro passo para entender) como é que se faz um planejamento anual dentro de uma startup que é repleta de jovens imediatistas, críticos e sedentos por um propósito. Exatamente como esse que vos escreve. Espero que esse texto ajude a entender um pouco de como eu e meu colega de liderança fizemos isso. Sim, colega de liderança, já vou explicar essa.
Não vou chamar de método de planejamento, não vou chamar de SWOT, nem de missão/visão/valores, não vou chamar de 5W2H, não vou chamar de nada. Essas siglas/ferramentas parecem que resolvem todos os problemas de um empresa, mas na verdade não, quem resolve são as pessoas (e as vezes essas siglas até atrapalham, parece que é só fazer uma receita de bolo). Só sei que seguindo esses passos (que duraram 48 horas) conseguimos muita coisa hoje:
1. Liderança compartilhada
Happiness (and leadership, why not?) is only real when shared. Duas cabeças pensam melhor do que uma, amigo. No caso de uma startup normalmente temos cenários jamais vistos e mercados jamais explorados, ou seja, muito provavelmente formatos tradicionais de gestão não vão atender as demandas desse novo modelo de negócio. No processo de planejamento e liderança não é diferente. Para atingir os objetivos da nossa empresa no mercado, ter uma pessoa liderando ao meu lado a nossa equipe permite potencializar e tirar o máximo do nosso time. Enquanto um pensa nos números, outro pensa na comunicação, enquanto um pensa no futuro, o outro pensa no presente, enquanto um cobra o outro encoraja. A dica é: Se você lidera uma time compartilhe seu planos para o time com outro líder tão bom quanto você. Eu aposto que se o Felipão e o Tite estivessem na mesma comissão técnica o Hexa já tinha vindo em 2014.
2. Construção compartilhada do planejamento
Minha geração compartilha fotos no Instagram, compartilha acomodações no Airbnb e compartilha músicas no Spotify. Quem precisa construir o planejamento é quem vai executar, quem executa é quem tem mais propriedade sobre qualquer assunto. Se o teu colaborador tem conhecimento suficiente de negócio para planejar, ela deve planejar. O que eu quero dizer é que todo mundo deve ser incluído nesse movimento, os dois líderes e toda a equipe. É a equipe que vai dizer o que temos que fazer e quando temos que fazer, é a equipe que vai dizer “Meu chefe não faz essa tarefa aqui desde janeiro, estamos em dezembro e esse processo já mudou faz tempo. Eu consigo entregar isso em 30 dias e não em 90 dias” – Até o chefe descobrir isso já se passaram 3 meses. A função dos líderes é nortear estrategicamente a equipe de acordo com os objetivos da empresa, alocar todos os recursos necessários e dar todas as condições possíveis para esse time entregar o que ELE está propondo e não o que foi proposto a ele. Hoje em meio a essa dinâmica, surgiu uma frase que representa o item “2” desse texto: Uma equipe deve ter Liberdade sobre os meios e responsabilidade sobre os fins.
3. Comprometimento/sentimento compartilhado
Uma pessoa comprometida é uma pessoa que simplesmente QUER. Uma pessoa que vai transformar seu plano em realidade e vai criar as suas próprias regras do jogo. No momento final desse ciclo de planejamento a nossa maior missão era ter certeza que as doze pessoas estivessem alinhadas para cumprir com o que todas se propuseram. Conseguimos isso porque quem criou o planejamento, foi o time. O planejamento tinha a cara deles, os projetos deles e as timelines que eles desenharam – Eles eram DONOS do planejamento e com isso se sentem DONOS da empresa. O time é muito diferente entre si, mas complementar, assim como os líderes deles e assim como os demais setores da empresa, porém todos eles são unidos pelo sentimento de dono. No pior dos cenários, se tivermos que replanejar toda a área em março eu sei que esse time vai fazer isso na velocidade que o mercado precisa e mesmo assim entregar valor para a empresa. Eles são os donos do negócio.
Esse meu retrato do que vivi nesses últimos dias não era pra ser um método, muito menos um processo é mais uma percepção mesmo e vou me atrever a deixar uma mensagem: Planejamento é importante, mas não invista 80% do seu tempo nisso, não invista 80% do seu tempo em processos, invista em 80% em pessoas.
Planejamentos perecem, pessoas permanecem.